Ser Mestre: a arte da devoção
Quando nos deparamos com a palavra mestre, sempre nos vem à cabeça um ancião oriental, ensinando um garoto, ou uma pessoa com adjetivos extraordinários, capazes de superar qualquer limite físico ou técnico. Não estamos errados nessa concepção, pois para a maioria dos entusiastas de artes marciais, essa é a imagem que foi pregada.
Porém, nos dias atuais, muitos são chamados ou se chamam de “Mestres”. Então nos perguntamos: o que é ser mestre? O que torna uma pessoa um mestre? Quais os atributos ao indivíduo deve possuir para que seja usada essa palavra tão mística e ao mesmo tempo tão comum?
Podemos treinar duro, e muito. Atingir um apogeu técnico em termos de velocidade, precisão e potência. Podemos treinar nosso corpo para que chegue ao ápice da boa forma, elasticidade e força. Podemos montar uma rede de academias com dezenas de alunos prontos para reverenciar-nos nas fotos que foram colocadas nas mesmas. Mas, na realidade é que esse é um caminho muito fácil, e que muitas vezes nos deixa dúvidas...
Assim como a água a força física acaba se evaporando, e assim como o dia a capacidade técnica vai embora. Então, como vamos nos mostrar mestres com o passar do tempo? Vamos dar esse título para um êxtase de momento, ou para a conduta de uma vida?
O verdadeiro mestre não é visto por quantas pessoas ensinou, e sim por quantas tiveram a capacidade de aprender. Não quantas lutas venceu no decorrer da vida, mas quantas conseguiu evitar. Nunca olhe a quantidade de tijolos que seu mestre vai quebrar, mas a quantidade de exemplos que ele pode lhe dar, em todos os sentidos. Pois, isso é ser mestre, ter a capacidade de dar exemplos.
Ser chamado mestre, vai muito além da arte marcial, do conhecimento filosófico, da qualidade da roupa, ou da linhagem, pois, como Bruce dizia: “ O conhecimento vem de fora, mas a sabedoria vem de dentro”. Não é a cor da sua faixa, ou seu certificado. Mas sim a sua capacidade de liderar e ao mesmo tempo a humildade de assumir que é um humano, errôneo como qualquer outro.
Saber orientar alguém, poupando-o de suas próprias conclusões. Ser um mapa para o caminho, mas sem impregná-lo com suas próprias besteiras.
Esqueça os cabelos e barbas brancas ou os olhos puxados, pois existem mestres de 10 anos e tolos de 80. Isso não é um dom, mas uma devoção. Qualquer um pode ser, porém nem todos tem a real capacidade, não técnica, mas moral. Pois, ser mestre exige sacrifícios, superação (e muitas vezes superação de ego), audácia e sensatez. Então, se quiser ser conhecido por mestre, treine HUMILDADE ao invés de socos, RESPEITO ao invés de chutes e acima de tudo olhe para sua CONDUTA e não para o espelho. Só ela vai te elevar ao patamar que técnica, faixa ou linhagem nenhuma vai, esses três princípios são os que dignificam o verdadeiro mestre e só restarão eles quando todo o resto se for.