Autor Tópico: Bruce Lee  (Lida 4119 vezes)

Offline Shogun

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Bruce Lee
« Online: Janeiro 16, 2005, 09:27:55 »
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O facto mais misterioso e controvertido na vida do grande Bruce Lee continua a ser… a sua morte. As circunstâncias que rodearam o falecimento prematuro do maior mestre de artes marciais do séc. XX foram estranhas e permanecem até hoje inexplicadas. Conta-se que Bruce reagiu tragicamente mal a um comprimido para dores de cabeça, mas não parece que essa explicação oficial e politicamente correcta convença muita gente: designadamente, fica por esclarecer porque é que durante a rodagem do seu último filme Bruce afirmou que não viveria o suficiente para ver o seu final. Muitos fãs inconformados têm por isso procurado outras explicações. Uns falam da possibilidade de suicídio. Outros, mais optimistas, acreditam que o seu ídolo não morreu, mas vive em reclusão num templo de Shaolin, longe dos olhares do mundo. Outros ainda, julgam que Bruce terá sido vítima da máfia chinesa, à qual sempre recusou prestar vassalagem.

Antes de morrer, porém, Bruce Lee fez vários filmes e o primeiro deles foi The Big Boss (1971). Precisamente por ter sido o primeiro, este não foi o seu melhor filme: o controlo de Bruce sobre o produto final esteve consideravelmente limitado e, infelizmente, nem todas as sequências de luta foram da sua autoria. Mesmo assim, as marcas do seu talento estão lá quase todas e o excelente argumento combina a ficção mais espectacular com alguns elementos retirados da biografia da sua vedeta principal. Tal como o protagonista Cheng Chau-an aporta numa terra estrangeira à procura de trabalho, também Bruce regressou em 1959 à sua cidade natal de São Francisco com apenas 115 dólares (15 do pai e 100 da mãe) nos bolsos em busca de uma nova vida. E tal como Bruce jurou aos seus pais evitar os sarilhos, também Cheng traz ao pescoço um amuleto de jade que representa idêntica promessa feita à sua mãe. Num dos pormenores mais memoráveis do filme, o amuleto é quebrado em dois, pelo que, liberto do peso simbólico desse compromisso, Bruce poderá então começar a fazer justiça pelos seus próprios meios.

O seu filme seguinte foi Fist Of Fury (1972), uma história de resistência ao imperialismo japonês que é também um testemunho eloquente do universalismo da mensagem de Lee. Numa das melhores cenas, Bruce desafia sozinho toda uma escola japonesa de karate, cujos membros haviam insultado a sua escola e apelidado o povo chinês de «homens doentes da Ãsia». Bruce consegue derrotar todos os seus membros graças às suas superiores técnicas de combate – que são uma mistura de artes marciais de diversas regiões – demonstrando deste modo que o mais importante não é o país de origem das artes, mas sim o indivíduo e as suas convicções. Ao longo da sua vida, Bruce manteve-se leal a estes princípios e nas suas escolas compartilhou os seus ensinamentos e princípios de auto-defesa com todas as pessoas de todas as raças. Entre os seus alunos mais célebres, estiveram Roman Polanski, James Coburn e Steve McQueen.

Tanta generosidade e espírito de abertura não caíram no goto de muita gente, sobretudo da fraternidade chinesa da Califórnia, cujos membros não aceitavam de bom grado que os segredos das artes marciais fossem revelados a estrangeiros. Bruce começou então a ser o destinatário de um sem número de ameaças e desafios, o mais célebre dos quais por Wong Jack Man, um mestre de kung-fu recém-chegado à América: quem dos dois perdesse o combate, seria forçado a fechar a sua escola de artes marciais. Bruce saiu ganhador em poucos minutos, mas mesmo assim não ficou suficientemente satisfeito com a vitória, pelo que considerou que era altura de reavaliar a sua condição física e repensar a sua técnica: nascia assim o seu jeet kune do, que acabaria por se tornar no mais eficiente sistema de combate corporal alguma vez concebido.

Alguns dos princípios desta nova arte seriam expressamente enunciados em Way Of The Dragon (1972), o filme que se seguiu: «o método não é importante, desde que se utilize o corpo na sua máxima potencialidade», «mesmo por entre movimentos violentos podemos atingir os nossos objectivos e exprimirmo-nos» ou «qualquer que seja a arte, faltar-nos-ão sempre as forças se não aprendermos as coisas correctamente». A designação jeet kune do foi adoptada em 1967, mas anos mais tarde Bruce arrependeu-se de ter dado um nome à sua arte, pois os dois tornaram-se indissociáveis. Um nome junta-se sempre ao seu referente de uma forma rígida. Ora, a rigidez é exactamente o oposto do «método sem método» sobre o qual assenta esta nova arte, que é essencialmente um processo de crescimento contínuo, melhoramento e adaptação. Bruce chegou, a este respeito, a afirmar: «o que quero mostrar é a necessidade de nos adaptarmos a circunstâncias que mudam. A incapacidade de adaptação traz consigo a destruição».

Este princípio de adaptação encontrou a sua expressão máxima naquela que viria a ser a maior sequência de combate alguma vez filmada: o célebre confronto final entre Bruce Lee e Chuck Norris no Coliseu de Roma. No início do combate, Bruce é atingido diversas vezes pelo oponente porque adopta uma atitude demasiado rígida. Norris também adopta uma atitude rígida e os dois adversários vão trocando um número mais ou menos idêntico de golpes. Porém, Chuck Norris começa a levar a melhor graças ao seu peso e estatura. Bruce decide então mudar a sua estratégia e adopta um «método sem método», variando constantemente o ritmo e a intensidade dos seus ataques, muito para irritação de Norris. Anos mais tarde, perguntaram ao actor americano qual dos dois ganharia se o confronto fosse mesmo real e Norris, que foi oito vezes campeão mundial de karate, confessou que o vencedor seria sem dúvida Bruce!

As reflexões filosóficas continuaram com o filme seguinte, Enter The Dragon (1973): o título de maior sucesso na carreira de Bruce é também a sua obra mais sábia e o compêndio de algumas das suas lições mais profundas. Uma delas está contida numa frase célebre que dirigiu a um jovem estudante do templo de Shaolin: «não penses, sente. É como um dedo apontado à lua». Quando o estudante olha especado para o dedo, apanha uma bofetada e Bruce prossegue: «não olhes para o dedo senão perderás toda a beleza divina». O mestre fala aqui da necessidade dos homens se expressarem honestamente e abrirem o seu espírito a tudo aquilo que os rodeia; concentrar-se no dedo implicaria limitar a visão do mundo. O filósofo Bruce Lee sempre foi, aliás, avesso a sistemas fechados e acolheu influências das mais diversas proveniências, como o budismo, o taoísmo e o confucionismo. O próximo filme deveria ser a enunciação mais completa desta sua doutrina, mas infelizmente Bruce nunca chegaria a realizar esse sonho.

Lembram-se do uniforme amarelo com a risca preta que Uma Thurman usou em Kill Bill? Pois bem, o traje é uma homenagem explícita a Game Of Death, o quinto e último filme de Bruce Lee, no qual o protagonista utilizou um uniforme rigorosamente idêntico. A escolha do guarda-roupa não foi, aliás, casual: o fato representava a singularidade do estilo de Lee e a sua não filiação em nenhuma das artes marciais existentes. Lamentavelmente, a morte inesperada de Bruce não permitiu que o filme fosse concluído e a versão póstuma surgida em 1978 pouco ou nada tem que ver com o projecto original: por isso, esse celebérrimo fato amarelo mais o verdadeiro Bruce Lee surgem apenas no último terço do filme e durante 15 minutos, já que tudo o resto foi representado por duplos e sósias do mestre. Mesmo assim, pelo menos esses 15 minutos sobreviventes estão lá: três extraordinárias sequências de luta fluidas, dinâmicas e ricas em simbolismo, as melhores que Bruce alguma vez concebeu.

Um Abraço e Bons Treinos

SHOGUN
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