O QUE É UM SHIHAN
John Stevens Sensei
Professor na Tohoku University em Sendai, Japão, John Stevens é Shihan do
TFU Aikido Club. É autor de muitos livros, incluindo o recente Shambhala
Guide to Aikido.
A definição clássica de “shihan” é “aquele que dominou os segredos de uma
arte e divide esses segredos em uma transmissão pessoa-a-pessoa, de
coração-a-coração – um hábil instrutor da mais alta integridade em quem se
pode confiar plenamente.”
O nível de shihan é largamente empregado nas artes japonesas: pode-se ser um
shihan em Caligrafia, shihan em Cerimônia do Chá, ou shihan em Shakuhachi
(flauta).
As exigências para o título de shihan variam. Em alguns casos, uma promoção
que enfatiza a graduação depende quase que exclusivamente de destreza
técnica, posição ou (alas!) política interna. Esta tendência é a a mais
desafortunada porque,no budo clássico, a técnica não pode ser dissociada do
caráter. De acordo com um antigo provérbio, “se seu coração não é
verdadeiro, suas técnicas serão falsas”.
Os alunos refletem o ensinamento e atitude de seu professor, tanto fora como
dentro do tatame. Assim, um shihan está sempre ensinando, 24 horas por dia.
Tradicionalmente, entende-se que um shihan carrega consigo uma grande
responsabilidade moral em relação aos alunos. “Shihan” é geralmente
traduzido para o inglês como “instrutor- mestre”, mas talvez uma expressão
mais adequada seja “modelo de bom exemplo”.
De Shirata Sensei, meu shihan, aprendi técnicas maravilhosas. Mas, o que é
mais importante, estudei a maneira como ele vivia.
Um dia, quando fui visitá-lo, encontrei em seu jardim. Ele estava sentado em
seiza, estudando um livro, tomando notas – realmente concentrado naquilo.
Embora tivesse 74 ou 75 anos, estava tentando melhorar a si mesmo como
professor. Seu Aikido aprimorou-se dos 75 anos aos 80. No tatame, buscou a
essência do Aikido durante sua vida inteira. Desse modo, seu exemplo
inspirou-me a persistir em meus estudos. Ele era um shihan – um modelo.
Ishida Sensei, que faleceu recentemente no Havaí aos 90 anos , passou 25
anos ensinando quatro noites por semanas por quase nada. Esse é o tipo de
inspiração que procuro. Uma atitude de professor, a maneira como ele ou ela
aborda e lida com situações, é muito mais importante que sua técnica.
Quais os pré-requisitos para ser um shihan ? Eu diria: “Caráter.”
No Japão, 6° dan é visto como o equivalente a uma licença plena de mestre.
(Para tornar-se um mestre pleno no Japão exige-se cerca de 20 anos de
estudo.) E, no Japão, 7°, 8°, ou 9° dan são níveis honorários agraciados por
longo e dedicado serviço prestado ao Aikido.
No Norte do Japão, onde fui treinado, a graduação era utilizada algo
informalmente. Quinto dan era entendido como sendo graduação de shihan.
Nunca houve dúvidas sobre quem era shihan ou não; se você era 5°dan e estava
ensinando, então era shihan. Assim desde que fui promovido a 5° dan, fui
registrado nos registros da Aikido Association of Miyagi Prefecture como
“John Stevens, Tohoku Fukushi University Shihan”.
Entendo que há algumas dificuldades com o uso do termo shihan fora do Japão.
Não estou familiarizado com essas dificuldades, e não posso comentá-las.
Como sempre digo, o sistema de graduação é arbitrário. Algumas pessoas que
merecem altas graduações não estão interessadas, e aquelas pessoas que estão
em busca de títulos tendem a treinar com professores que irão promovê-los.
Minha tendência é não pôr muita ênfase na graduação. Para mim, o mais
importante é a relação com um professor que serve como modelo. Esta pessoa
que serve como um modelo é um shihan.